GREYHOUND - O esporte - IV

Por: Ricardo Coacci

O esporte

Foto gentilmente cedida por: Arlindo Davi Marzari Bettker


O Galgo Inglês é um atleta famoso, capaz de atingir velocidades de oitenta quilômetros por hora. Como os ingleses, desde sempre grandes entusiastas das atividades ao ar livre, nunca deixaram de praticar a caça à lebre, foi Elizabeh I (1533-1603), apaixonada pela caça e pelos cães, quem pediu ao Duque de Norfolk que regulamentasse. Esta diversão constituía, desde há muito, um verdadeiro espetáculo em que dois Lebréus competiam em velocidade e sagacidade, para apanhar a lebre.
A atração que este desporto exercia aumentava devido ao entrecruzar de apostas, o que muitas vezes também provocava litígios, apesar de estar entre “gente do bem”. Assim, se um dos Lebréus apanhava a lebre e todo o trabalho havia sido feito por outro, qual dos dois merecia ganhar?
Como, nestes assuntos, as tradições diferiam de região para região, a regulamentação do Duque de Norfolk teve o mérito de impor uma interpretação única e absolutamente clara, que permite aos lordes fazer competir os seus Lebréus e apostar discretamente. O coursing inglês do século XVI surpreende pelas suas semelhanças com as corridas de Galgos organizadas pelos senhores celtas na região do Danúbio, tal como foram descritas por Arrio, administrador romano e escritor do século II. De fato, Arrio sublinhou o escasso interesse dos senhores pela captura do veado e a importância que davam a proezas dos seus cães. Em todo o caso é pouco provável que o Duque de Norfolk conhecesse os escritores de Arrio, pelo que a semelhança da captura no coursing talvez sela apenas casual, embora também seja possível que se tratasse de uma composição de persistência das velhas tradições celtas na aristocracia inglesa. Por outro lado, os espanhóis também mantiveram costumes com Galgos durante séculos.
Com o tempo, o coursing ganhou um considerável prestígio, a ponto de os entusiastas terem acabado por se agrupar e, clubes. A primeira reunião organizada em registro foi o famoso Swaffham Coursing Society, criado em 1776 por Lorde Orford. Este ficou célebre porque a famosa Czarina, vencedora de quarenta e sete corridas e que nunca soube o que era uma derrota, fazia parte de sua criação. Ainda por cima, depois de terminada sua brilhante carreira, aos treze anos, pariu Claret, que viria a ser o progenitor de Snowball, um dos famosos Greyhounds de todos os tempos.
Lord Orford também é conhecido por ter introduzido nos seus Greyhounds sangue de Bulldog, a fim de lhes dar mais valentia. Estes cruzamentos teriam dado origem ao pêlo curto, fino e brilhante do Greyhound moderno, à sua musculatura nervurada e também, segundo alguns, à sua pelagem tigrada. Embora H. Edwards Clarke fale desta infusão como de “uma famosa experiência de cruzamento”, a maioria dos especialistas não dá muita importância ao aporte do Bulldog e por outro lado, o Greyhound não tinha qualquer necessidade de sangue para se tornar o Galgo com as melhores capacidades do mundo, confirmando-se assim o fato de os diversos tipos regionais de Galgos Ingleses, de características diferentes conforme a natureza dos terrenos de caça, se terem fundido num só modelo.
Seja como for, não há dúvidas de que o Greyhound de competição nasceu entre finais do século XVIII e meados do XIX e que foi o resultado da seleção introduzida pela evolução do coursing, transformando durante esse período de tempo numa competição de alto nível.
Depois do Clube Swaffham, fundaram-se muitos outros durante os quarenta anos seguintes, entre os quais se deve citar Altcar Society (em 1825), que depois organizou a famosa Waterloo Cup, uma nova grande prova do coursing inglês. Como afirmou um entusiasta, “a Altcar está para o coursing, como o Epson está para as corridas de puro-sangue, Henley para o remo, Wimbledon para o tênis e Lords pra o críquete”.
Em 1836, Sr. Lynn, proprietário do hotel Waterloo, organizou oito competições com o nome de Waterloo Cup. A corrida inaugural foi em Lord Sefton estado de Altcar. Na segunda corrida o numero de criadores passou de apenas um para dezesseis e em 1838 esse número dobrou. Em 1857 foram promovidas 64 competições, tal qual as outras.
Somaram-se à Waterloo Cup, “Waterloo Purse e a Waterloo Plate”. A fundação em 1858, do National Coursing Club, organismo consultivo de que fazem parte diversas associações regionais, assinalou o momento culminante da disciplina. Foi a National Coursing Club que inaugurou o Greyhound Stud Book ou o livro específico da raça, em 1882. Em todo caso, o Greyhound ficaria fora da esfera da cinofilia nascente, pois na Inglaterra segue-se a regra que os cães de trabalho sejam eles Greyhounds, Fox Hounds ou Border Collies, devem ter um livro de origem distinto dos livros do The Kennel Club.
Evidentemente, o coursing é um esporte da elite, a Waterloo Cup sempre teve uma ressonância na imprensa e entre o grande público (e ainda hoje continua a tê-la), mas tem de se reconhecer que é impossível reunir os espectadores necessários que apreciem pelo seu justo valor essa competição, na qual a captura da lebre não passa de uma desculpa.
Por essa razão, os ingleses tentaram inventar um esporte-espetáculo que fosse acessível ao público e dado o entusiasmo pelo jogo, o dinheiro existente no país, capaz de servir de suporte os jogos de apostas.
Começaram por organizar corridas de perseguição em campo fechado, a fim de que o público as pudesse seguir melhor. Este empreendimento, que teve certo êxito, provocou a ira dos verdadeiros entusiastas do coursing em campo aberto. “A organização do coursing de campo fechado, tal como se tem podido ver nos campos de corrida de Kempton Park e Gosforth Park, alerta às condições do desporto. Além de atentar contra o prestígio de velhas tradições como as provas da Waterloo Cup, da Altcar Society”.
Mais tarde o entusiasmo voltou-se para a rabbit-coursing ou corrida de perseguição ao coelho, que se teve certo êxito, sobre tudo nos meios hípicos.
Os Fox Terries utilizados nessa modalidade foram então cruzados com pequenos Galgos, dando nascimento a uma primeira versão do Whippet. Nas regiões industrializadas do centro e do norte da Inglaterra, os mineiros e os operários têxteis simplificaram o rabbit-cursing fazendo correr os cães em linha reta; ajudantes especializados “soltavam” os cães em direção a seus proprietários. Que os encorajavam agitando pedaços de panos. Essas corridas aconteciam em pistas de cerca de 180 metros e as apostas subiam como “espuma”, mas continuava havendo um risco, o “largador” podia ser menos ou mais rápido – e, às vezes, até houvessem quem lhes pagassem para não serem tão rápidos-, o que falseava o resultado.
De todos os modos, os veados deixaram de ser usados para fazerem os Galgos correrem e em 1876, os ingleses inventaram, em Welsh Harp, perto de Hendon, uma corrida de Greyhound com lebres mecânicas, ou seja, um carretel, que corria por uma corda, em que uma lebre embalsamada era presa. O invento apesar de ter sido aceito com entusiasmos, e até publicado pelo “Times”, não teve seguimento por que além dos galgos ficarem desorientados, o aspecto técnico dele não estava apurado e as máquinas não eram confiáveis.

Fulerton, vencedor da Waterloo Cup em 1889, 1890, 1891 e 1892. "Kennel Secrets", 1893.

2 comentários:

  1. Excelente texto, super interessante. Achei o máximo ler todas estas histórias sobre o Greyhound, obrigada Ricardo.

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  2. Ricardo, só você memso para me fazer gostar de História..rsrs

    Você sabe que estou amando.. é uma honra ter você como escritor no Confraria dos Galgos.

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