MEUS VERDADEIROS AMORES

Por: Sonia Iglesias

"Meu pai nasceu em Florença, berço da arte na Itália. Todos os homens de sua família eram artesões em madeira fina. Peças do Vaticano tinham a assinatura da Família Centrone. Meu pai também desenvolveu a arte. Desenhava e produzia móveis de altíssimo nível e qualidade. Vieram para o Brasil fugidos da segunda Guerra Mundial e em São Paulo, fundaram sua indústria de móveis. Eram extremamente clássicos, em estilo inglês. Papai conquistou a nata da sociedade e clientes nos visitavam na loja da Rua Maceió em Higienópolis, com seus motoristas, Sras de chapéu e luvas, acompanhadas de seus galgos chiquérrimos. Entre seus clientes, havia a Sra. Glorinha de Gusmão Lins e Silva. Elegantérrima, vinha sempre acompanhada de seus inseparáveis galgos de coleiras douradas. Assim que adentrava a loja, papai me chamava para vê-los. Morávamos nos fundos. Me lembro que uma das recomendações de madame Glorinha, era que minhas pequenas mãozinhas estivessem limpas para acariciar seus cães. Eu tinha apenas cinco anos e papai me dizia:- Estes são legítimos italianos como o Babbo. Eu respondia: -Quando crescer quero ter muitos destes. Me lembro como se fosse hoje.


A família da minha mãe era grande no Brasil. Também descendentes de italianos. Todos cachorreiros e gateiros, desde pequena aprendi a amar os animais. Ainda adolescente comecei a prestar serviços como voluntária para D. Lise, na UIPA. Meus avós, meus tios, primos, mãe e pai, recolhiam animais carentes, tratavam e depois doavam. 

Ao longo de muitos anos, via apenas Afghans hounds e minha tia teve várias fêmeas dessa raça. Ela adorava. Cresci, me casei e após dez anos é que consegui convencer meu marido a ter um cãozinho.
Já morando em Alphaville, folheando um jornal da região, li a seguinte notícia: Doa-se filhotões de whippets. Liguei imediatamente e como tinha dois filhos disse a dona do canil que gostaria de duas fêmeas. Ela logo aprovou dizendo que quem adota dois esta a fim mesmo. Quando lá cheguei no Embu, ela me trouxe a Chiquinha e a Rona, que logo correram ao meu encontro fazendo a maior festa. Ela admirou-se dizendo que eram super medrosas e havia sido amor a primeira vista recíprocos.
Rona (branca no colo de minha filha) e Chiquita precisavam de um lar. Creio que eram matrizes e precisavam de muitos cuidados, entre eles limpeza de tártaro. No ano seguinte levei Rona e Chiquita para a limpeza habitual, mas Rona desta vez não voltaria. Faleceu com choque anestésico, no dia do veterinário em 2005. Ele chorava mais que eu.



Chiquita começou a sentir-se muito sozinha e adoeceu.

Rapidamente comecei a procurar canis para conseguir uma fêmea adulta, mesmo castrada, mas não tive sucesso.




Já sem esperança recebi a ligação do Sr. Luiz da Apasfa, me oferecendo o Gordo, um raro exemplar de Galgo Slougui.


Encontrado junto de sua amada já sem vida, numa casa abandonada, cuja dona havia mudado e “esquecido “ o principal: seus cães. Disse a ele que preferia uma fêmea, mas que iria vê-lo. O óbvio aconteceu, me apaixonei. Era pele e osso. Foi muito difícil faze-lo engordar um pouco. Sua gratidão por mim é absurda.



Em seguida recebi a ligação de uma criadora. Vendeu uma fêmea a um rapaz pouco confiável. Paris. Acompanhando a filhotinha, insistiu na devolução, mas ele negou, querendo o dobro do valor. Ela pediu encarecidamente para que eu ligasse para o rapaz, mas já estava com a Chiquita e o Gordo, como pegar mais um.....não resisti, liguei. Ele me atendeu da seguinte forma: - Que saco, vou vender pra você. Quero R$500,00 ou uma geladeira branca triplex. Peguei meu filho, a caminhonete do meu marido, segui para as Casas André Luiz em Osasco e quando lá cheguei, a primeira geladeira que vi era a exigida, pensei: - Isto é um sinal. Comprei por R$380,00, coloquei na caçamba e segui para o destino. Parada de Taipas, alguém faz idéia de onde é ? Uma super pirambeira quase em Perus. Quando vi Paris, meus olhos se encheram de lágrimas. Era apenas um bebê com 80% do corpo tomado pelo fungo. Nem olhei para trás, peguei a cadelinha, descarreguei a geladeira e fui direto para o vet. Ela passou fungo para a Chiquita e para o Gordo. Um parto, mas sarei os três.

Duas semanas depois recebo a ligação de minha prima desesperada para ajudar um criador falido na Penha. Resgatei Chanel que me foi vendida por R$100,00. O lugar era horrível
Também matriz, tinha calos nos cotovelos dianteiros e traseiros. Extremamente magra e desnutrida. Fedia galinha e era muito tímida.




Descobri mais tarde que era uma rede de criadores que trocavam seus animais como mercadores e assim sem resistir, resgatei Charlotte, outra estória comovente.
Era mantida em um galinheiro. Comia fezes de galinha e milho. Muito arisca, até hoje não consigo me aproximar dela.

Fazem dois anos. Ela foge de mim, late pra mim e se afasta desconfiada do mundo. O animal mais tráído que conheci.

Vive na casa de minha mãe, pois ela e Chanel não se bicam. Lá esta com Chiquita para não ficar sozinha. Felizmente minha mãe vive há duas quadras de mim. Assim posso ver Chiquita sempre que desejo.

Com toda a sua paura, ainda consigo pega-la no colo.

Beijo, abraço, converso e ela treme muito e mantem sua boca aberta como se lhe faltasse o ar. Vou tentar florais. Quem sabe melhora.


Neste momento meu marido começa e me pressionar para doar Chanel e Charlotte. 


Sabendo da minha paixão por Galgos, novamente recebo a ligação da minha prima. Agora era SLIM que precisava de ajuda. O criador dizia não saber porque o animal emagrecera tão rapidamente. Slim chegou com 60% abaixo do peso. É possível imaginar um whippet magérrimo? Quase um WIP. Chamei uma UTI móvel, Dra Adriana Terlizze se prontificou a vir de imediato e numa mesa de plástico na sala, improvisamos uma UTI, aplicamos soro, emolitan, comida de convalescente, uma super coxa de frango e ele felizmente reagiu. Mas a infecção urinária entre outras era grave. Morreu nos braços de minha filha Victória, antes de eu tentar faze-lo alimentar-se. Foram três dias de tentativas em vão.



Minha prima, tempos depois me convida para visitar um amigo que estava aniversariando em Mairiporã. Robson. Ele tinha um Pet Shop que fora roubado. Estava aborrecido. Ele possuia a "Serena" que estava grávida e eu logo me apaixonei por ela. Se parecia muito com a Rona. Falei sobre a minha prole e ele não acreditou. Quando Serena teve os filhotes, apenas um restou....Bobby e este como não podia deixar de ser, me foi presenteado pelo Robson. Também chegou bem magrinho e tímido, com alguns fungos, mas como o amor supera tudo, vejam a foto do galã.


Este pequeno e indefeso tigrado, ficou em minha casa apenas três dias sem castrar. No quarto dia foi para o veterinário. Algum tempo depois vejo as fêmeas mais gordinhas e achei que estavam com gravidez psicológica. Minha suspeita rendeu oito filhotes. Ele não perdeu tempo.


Filhotinhos da Paris

Filhotinhos da Chanell
Consegui encaminhar todos muito bem, restando apenas 

Pilusca Pequenuxa Pequena, que o Robson manisfestara o desejo de te-la, pois infelizmente Serena escapou e sumiu, e Pilusca é a única lembrança da Serena que era sua avó. Ela esta aqui em casa desde 11.07.08, por causa de reforma eterna na casa do Robson. Esta com seis meses e acho que vai acabar ficando.



E agora...


WIP, o mais novo integrante da família é uma verdadeira conquista.
Uma estória de amor que cura todas as feridas e prova que o verdadeiro Bálsamo está no toque de nossas mãos e dentro do coração.

"Jesusincidências" (Coincidências), escritas nas estrelas.

No Pet Shop onde Robson era sócio, haviam um casal de galgos. Uma fêmea e um Macho, que foram levados também. Um dia minha prima vendo a foto do Gordo me afirmou: - Este é o Tarkan, o galgo que roubaram do Robson, eu tenho certeza. Quando mostrei a foto a ele, o mesmo ficou estarrecido. Era mesmo seu galgo.Só que não o quis de volta ao ver como estava sendo tratado aqui.

Pasme: outra jesusincidência, foi quando peguei o Pedigree, enviado pela Amanda, da Paris. O Slim é pai dela e o Bobby e ela são irmãos por parte de Pai. É o máximo não é mesmo.

Bjs

Sonia"


4 comentários:

  1. Histórias lindas! Fiquei comovida com cada uma delas.

    ResponderExcluir
  2. esse Whip está cada dia mais lindo!!!!!!! Logo mais levarei o Biscuit para os encontros dos Galgos...
    Sonia - eu sou sua fã.

    ResponderExcluir
  3. Gostaria de agradecer os comentários e à você em especial Débora por tornar publica minha estória de amor por esses seres de puríssima alma. Jamais poderei agradecer a alegria de te-la conhecido e de me tornar sua fã incondicional. Seu trabalho é lindo e espero que estejamos sempre juntas. Obrigada de coração

    ResponderExcluir
  4. Olá,
    Não e incomum encontrarmos breves mas inesquecíveis heróis como você em resgate aos nossos melhores amigos. Raro mesmo e encontrar comoventes historias com "galgos". Fui criado e cresci em Inglaterra e tenho nesses anjos magros e fortes talvez a maior paixão da vida, como a família. Sou dono do Bisteka (Asgaard D'Ullr) um outro anjo magrelo que mudou muitas coisas em como olhamos para a vida em mim. Se me permite o enceno, por acaso não saberia de uma galguinha necessitada de uma nova família. Eu moro próxima da Paulista e caso-me em Janeiro. Minha costelinha tbem e apaixonada por animais (especialmente gatos) e sinto uma falta imensa da deliciosa rotina de cuidar e ser cuidado por um whippet/lebreu. Poderia castra-lá se necessário. Enfim, parabéns pelo site - o qual já ganhou um novo vizinho visitante. E duplos comprimentos pela afeição e carinho para com os cães mais incríveis entre nos. Cheers, San Picciarelli

    ResponderExcluir