Por Margarida Teigas
«Bom dia! Recebo regularmente informações do mundo dos galgos e eu acho ótimo estar atento a este mundo e eu explico:
Já fui um criador de galgos. No início da década de 80 eu tive o prazer de ter Borzois e Wippets em minha companhia e acreditem que foi um relacionamento ímpar. Meus cães morreram de velhos...» - dizia um dos amigos do site e eu não resisti a copiar porque podia ter sido eu a dizer.
Bom dia de novo, escrevo-vos de Portugal, Lisboa, que me desculpem o meu português de Portugal, tão próximo e tão diferente do que se fala no Brasil.
Nascida nos 50, em Santarém, a norte de Lisboa, terra de cavalos e touros, gente bravia e caçadora, era então habitual vermos nas ruas os escorreitos galgos, quando os cães ainda andavam à solta e livres pelas cidades. Assistimos ao seu desaparecimento enquanto crescia o numero de automóveis.
Esqueci os galgos até aos 80, quando as minhas filhas, adolescentes, viviam insistindo em ter um cão na casa que era então um apartamento em Lisboa.
Foi então que nos tomámos de pena por um animal estranho, de um rosado quase transparente, que enlanguescia, tiritando, na montra de um pet shop no centro comercial ao lado de casa, onde passavamos frequentemente. Entrámos para pedir informações sobre a estranha raça e era uma whippet de 2 meses, quase totalmente branca, apenas com uma mancha cinza sobre metade da cabeça. Caríssimo e suspeito, o animal parecia muito triste e pouco saudável, lá o deixámos. Mas por pouco tempo; roìa-nos a tristeza do bicho, frágil e feio, a incerteza sobre o seu futuro. Fomos buscá-lo.
Começou assim a nossa paixão por esta raça maravilhosa.
«Maria» tornou-se linda de morrer e era uma senhora. Descobrimos que tinha um alto pedigree e começou a passar, com sua elegância inata, nos concursos de beleza canina onde chegou a ser campeã. Cobriu-nos as paredes de taças e troféus mas sobretudo era a nossa companhia de cada minuto, tornou-se um membro da família de pleno direito, com a sua delicadeza e intuição, a sua esbelteza e savoir faire.
Percebemos muito cedo que não se podia deixar sozinha em casa - vingava-se. A não ser assim era um animal de companhia exemplar. Sossegada, não sujava, não roía, não ladrava - julgámo-la muda até ao dia em que, clandestina dentro de um hotel de praia, estranhou a equipa de limpeza que chegava e mostrou que também sabia guardar a casa.
Foi roubada no primeiro Verão que passou connosco em Espanha. Tinha uns 4 meses e logo depois de chegarmos à vivendazinha alugada, deixámo-la, com uma janela gradeada entreaberta, e fomos ao restaurante. Quando regressámos não havia cão. Escapuliu-se pelas grades de tão fininha que era...Foi o desespero. Toda a família se lançou na busca pelo bairro mas a cadela não se via em parte alguma. Já madrugada, quase sem voz de tanto lhe gritar o nome, voltámos a reunir-nos em casa e, logo a seguir um barulho na porta da rua e...era ela! Trazia uma corda ao pescoço e marcas evidentes de ter tentado soltar-se mas estava bem ! Nunca mais ficou sozinha.
Houve muitas outras histórias...
A «Maria» teve uma ninhada e dela ficou-nos uma filha, «Alissa» (foto ao lado). Ficou também a história do Alfy ou Alfinete, o filhote que nasceu sem palato e que conseguiu sobreviver e ser adoptado. Descobrimos a linhagem da «Maria» e a história do infeliz suicidio de sua mãe (também a «Maria», já velhinha e muito doente, insuficiente cardíaca e renal, se atirou-se uma noite para dentro da piscina e morreu).
Mas bem antes disso veio também a Maga, uma Borzoi linda e desastrosa que fazia tudo o que não devia, roía, mordia em quem passava e abria a porta da rua para passear sozinha.
Disputava com a «Maria» a liderança da matilha e saía a correr para tanto mais longe quanto mais a chamavamos...Melhorou depois dos 2 anos mas nunca deixou de ser um sarilho e um encanto. Um dia, na minha ausencia, fugiu de casa e desapareceu durante 18 meses (ainda o chip não era habitual em Portugal). Graças à internet e aos apelos nos sites de animais foi localizada por fim num canil publico onde estava já há 12 meses, a mais de 40 kms de casa, e veio terminar os seus dias num apartamento pequeno, com aquela felicidade de gato que só esta raça parece ter, o apego à sua almofada e os olhos sempre postos na dona.
Foi um ano depois, muito saudosa, que eu soube do «Simão» e é aqui que peço a vossa ajuda.
Através de um Abrigo de animais abandonados soube de um galgo encontrado a vaguear num estado de terrível debilidade. Recolhido, recuperou rapidamente e não resisti a adoptá-lo. O «Simão» deve ter uns 8 a 9 anos ou mais e apresenta nas orelhas os numeros de Bertillon, tatuagem identificativa de galgo de corridas, que não se faz em Portugal onde tal «desporto» é proibido apesar de se fazerem corridas ilegais. Trazia os dentes completamente cerrados. Tentámos reconstituir a sua história e encontrar-lhe a origem sem sucesso
.
Hoje é um respeitável cão de sofá, super meigo, obediente, gracioso, brincalhão e agradecido.
Vive em apartamento com um amiguinho rafeiro a quem protege e
anda na rua sem trela, sempre atento aos donos.
Foi chipado e castrado, porque sendo um belíssimo exemplar poderia tornar-se uma presa de criadores sem escrupulos.
Tem problemas de pele e uma doença - controlada - que parece só aparecer nos galgos, uma doença auto-imune que provoca infecções nos dedos por rejeição das unhas, desconhecida dos veterinários comuns, e que se compensa com doses de ácidos gordos essenciais, sobretudo os ómega 3 com vitamina E. Ganhou uma casinha e tem direito a uma aposentação feliz.
E uma identidade por esclarecer. Alguém tem uma ideia ? Como posso reconstituir a história deste provável campeão das corridas a partir das tatuagens que traz com ele ? Aqui fica o apelo de uma apaixonada...
Boa sorte e muitos momentos felizes a todos....
Margarida Teigas
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